quarta-feira, novembro 19, 2008

post nº 079

REPETIÇÃO... (porque hoje ainda se aplica mais o que escrevi em 1972)

do post nº 064

REFÉM

Vivo sozinho e abandonado
Do mundo escorraçado
Vivo sozinho e sem dinheiro
Por dar esmolas ser o primeiro

Vivo sozinho como um ladrão
Vivo de amor que me não dão
Roubo um capim
Faço uma cama
Roubam-me a cama
Fico-me assim...

Vivo com fome e não a sinto
Pinto-a na tela em que me pinto
Sinto a saudade, corro com ela
Perco a corrida, fico-me a vê-la

Olho para o céu, vejo-o vermelho
Espelho de sangue em que me espelho
Olho para a terra, vejo-a de luto
Lapelas engomadas e chão corrupto

Olho para a vida, peço-lhe a morte
Abro uma rifa no cabaz da sorte
Sai-me branca a terminação
Sai-me a tristeza, mas a morte não

Jorge Coimbra

domingo, novembro 02, 2008

post nº 078

ACREDITO NO PAI NATAL

Deixem-me dar agora o salto da fé
Olhos bem fechados, luz bem apagada
A vida que passe por mim em rodapé
Perdida, por nunca ter sido achada

Não me deixem crer ainda na artimanha
Que não aceito mais estar sempre triste
Quem perde, perde, não diz que ganha
E esta minha mão não é uma arma em riste

Acreditarei sempre no Pai Natal
Do meu imaginário mais profundo
Mundo onde o meu mundo é todo igual
Não como este nosso desigual mundo

Ainda ponho sapatinhos à lareira
Ainda sinto os Anjos à minha beira
Ainda trepo às árvores, intrépido

Ainda vejo uma virgem em cada mãe
Ainda perscruto o horizonte mais além
Ainda faço, todos os anos, um Presépio

Jorge Coimbra