quinta-feira, março 25, 2010

post nº 085

AMAR... É FACIL

Era fácil dizer simplesmente que te amo
Como se o amor fosse um engano na vida
Era fácil amar-te mesmo que o desengano
Fosse o único espinho da minha alma ferida

Era fácil abraçar-te mesmo que o não quisesses
E que ainda com o olhar duro me afastasses
Calando-me os surdos pedidos e as preces
Quando por ti eu chorasse quando chorasses.

Era fácil olhar para o sol que se põe no horizonte
E dizer que esse é o dia que renasce ansioso
Para que me abraçasses também nesse poente

Era fácil beber sedento dessa poeirenta fonte
Saciar todas as feridas das quais sou doloroso
E dizer ainda que te amo... e para sempre

Jorge Coimbra

terça-feira, fevereiro 02, 2010

post nº 084

ESTOU FARTO

Estou farto de ainda ser como sou
Quando sigo caminhos por onde não vou
Me abrigo e escondo onde não estou
E vivo do pensamento que a alguem sobrou

Estou farto de morrer só para viver
Como a onda na praia que tem que bater
Como o vento que sopra só para morrer
Contra rochas, como as asas do saber

Estou farto de canetas que nunca escrevem
De feridas que saram sem nunca doerem
De quem diz que sofre e não é doente

Estou farto de eras novas, poesias e trovas
E de rimas, rimadas em boas novas
Quero agora escrever com tinta permanente


Jorge Coimbra

sexta-feira, janeiro 15, 2010

post nº 083

STOP ALL THE CLOCKS...

À laia do post nº 030, aqui coloco uma pouco subtil tradução (de minha autoria com pouca autoridade) do brilhante poema de W.H. Auden...

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aero planes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

W. H. Auden

... agora a minha tradução... ou, pela força do poema, transladação:

Parem todos os relógios, desliguem o telefone
Façam o cão parar de ladrar pelo osso da fome
Calem todos os pianos, e ao surdo som de tambores
Tragam o caixão e que carpideiras chorem as dores

Obriguem aviões a dar lacinantes círculos no céu
Riscando no vazio do ar a mensagem: Ele morreu
Pombas vistam laços negros em forma de coração
E que sinaleiros usem só luvas pretas de algodão

Ele era o meu Norte, meu Sul, meu Este e Oeste
Minha semana de trabalho, meu Domingo de sesta
Meu meio-dia, meia-noite, minha fala, minha canção
Pensei que o amor durava para sempre: que ilusão

Não preciso de estrelas no céu, levem-nas uma a uma
E desmantelem o sol, e escondam a luz da lua
E despejem o oceano todo, e arrasem a floresta
Porque para mim agora já nada de bom me resta


W.H. Auden 1907-1973 (66 anos de rara beleza poética)... quem quizer que vá a net (que foi o que eu fiz)

Jorge Coimbra