sábado, março 29, 2008


post nº 054

A MINHA PRIMEIRA PRINCESA

Faz hoje exactamente 30 anos que no longínquo Triangle, no longínquo Zimbabwe, nascia o meu primeiro filho de todos os meus filhos: uma menina, uma princesa, uns olhos enormes que me olharam, ainda dentro da incubadora (porque estava frio) e, com a cabeça levantada, mostrando aquela força que ainda hoje tem) e com esses olhos disse: Daddy... do you love me?

Hoje, 30 anos decorridos, decorre uma eleição no Zimbabwe para eleger os não-eleitos.

Quanto à Natasha... elegi-a Princesa, a minha primeira.

Daddy
post nº 053

ESCRITO NAS ENTRELINHAS

Escrevo linhas nas entrelinhas
Confundo-me com linhas a mais
Sob um céu de mil estrelinhas
Equidistantes, transcendentais

Agora…

Exponho sempre o que posso
Compondo só em compasso
Entre as linhas do que ouço
E as entrelinhas do que faço

Ao despir meus restos mortais
Quando expirarem as credenciais
Para legado, dou minha última riqueza:
O “pensamento” que nunca foi demais

Envolvem-se já as linhas de defesa
E ninguém come mais à minha mesa
Altezas reais, pedintes, mortais ou imortais…
Que os defuntos são todos iguais…

Agora…

Quem me mentir perde a franqueza


Jorge Coimbra



















post nº 052

SEDE (de MARK COIMBRA)

Bebi da água da tua alma,
Viciado na tua paixão de vida, sufoco...
Aquela gota de desejo que impede a minha respiração,
Que paralisa todos os meus sentidos,
Que me atira para o meio da escuridão,
Que cobre o meu céu de nuvens diluvianas.
Aquela simples gota que paira sobre o meu ser,
Aquela simples sensação que congela a minha vontade de continuar...
Sufoco, engasgo-me ao beber da tua alma,
Mas é impossível parar,
Preciso da tua paixão, da tua vida...

Por Mark Coimbra em ABISMO DE PENSAMENTOS E SONHOS (vide conexões)

Abismo de pensamentos e sonhos
E assim, como que um elemento estranho, memórias, pensamentos vertiginosos, sonhos incompletos, sensações solitárias atravessam esta mente, deslocados da realidade, falsas, mentirosas que contam, no fundo, toda a verdade... Gritam, no alto dos pulmões para toda a gente, talvez ninguém… ouvir... eu sussurro para ninguém, talvez alguém… ouvir... Diário de um estranho deslocado no tempo e no espaço...

sexta-feira, março 21, 2008

post nº 051

ALGEMAS

Arquivei hoje um poema
No meu baú de memória
Com cadeado e algema
Para esconder o problema
De já ter passado à história

A verdade compulsória
Atacava-me qual dilema
Mentia-me contraditória
Atrasando a moratória
Em ansiedade extrema

Urdi um estratagema
E fiz uma invocatória
Em empolgada oratória
Furei o maldito sistema
Furtando-me à palmatória
Que açoitava por lema

Mas nesta trajectória
Como projecção em cinema
De esquema em estratagema
Perdi a eliminatória
Por café bebi chicória
Cuja aproximação à história
Do poema... nem é emblema

Acendo um pavio à Jurema
Com cheirinho a alfazema
Pedi-lhe com fervor a vitória
Duma verdade com a glória
De ter escrito este lema

“Amar sem usar algema”

Jorge Coimbra

sexta-feira, março 14, 2008

post nº 050 (téquinfim)

CARUSO de Lucio Dalla
(traduzidoprumim)

Ali onde o mar brilha
E sopra forte, o vento
Sobre um velho terraço
Em frente ao "Golfo di Surriento"

Um homem abraça uma mulher
Depois de ter chorado tanto,
Logo que limpa as lágrimas,
Recomeça o canto

Te tenho tanto amor
Mas tanto, tanto, tanto amor
Amor que agora é dor
Do sangue que se esvai em pranto


Fixou as luzes no meio do mar
Pensou nas noites lá na América
Eram somente reflexos de luar
Trilho de espuma fugaz e etérea

Escuta com a dor da música
Que se eleva dum piano forte
Vendo a lua romper a nuvens
Parece-lhe ainda mais doce a morte

Olhou nos olhos da mulher
Olhos verdes como aquele mar
De improviso cai-lhe uma lágrima
Pranto onde se irá afogar

Te tenho tanto amor
Mas tanto, tanto, tanto amor
Amor que agora é dor
Do sangue que se esvai em pranto

Com a energia da lírica
Onde o amor se perde em drama
Coloca um pouco de maquilhagem
Mímica da morte que tanto o chama

Iria transformar-se num novo homem
Se não fosse pelos dois olhos frios
Facas que lhe cortam as palavras
De pensamentos já confusos, vazios

O mundo torna-se tão pequeno
Também as noites lá na América
Sem amor, perdido na espuma
Naquela espuma fugaz e etérea

Mas se for a vida que termina
Já não pensará mais quanto
Amor que o faz infeliz
E recomeçará o canto

Te tenho tanto amor
Mas tanto, tanto, tanto amor
Amor que agora é dor
Do sangue que se esvai em pranto


tradução de: Jorge Coimbra

sábado, março 08, 2008

post nº 049 (7x7)

JÁ NÃO PROCURO NINGUÉM

Já não procuro ninguém
Conheço já todo o mundo
Um mundo que me fez bem
E outro mundo mais imundo

Já me cruzei com o tratante
Já descobri o traidor
Já apanhei o assaltante
Que me roubava o amor

Já me confessei em directo
Já me encontrei, eu mesmo
Quando perdi o amor secreto
Depois de achar outros a esmo

Já acordei de pesadelos
Já adormeci para sonhos
Confusamente desfiz novelos
Emaranhando-os, medonhos

Ao nascer num último dia
E morrer num dia primeiro
Acordo sempre de cara fria
Será o meu dia derradeiro?

Já não procuro vivalma
Entrego-me ao abandono
É sereno que perco a calma
Que já me embarga o sono

Que agora sonho mais baixo
Para não me despertar
Quem me queira agora agarrar
Procure onde me encaixo
Que eu estou cabisbaixo
Pois vou ter que me encontrar

Já não procuro ninguém
Conheço já todo o mundo
Este mundo já não me faz bem
Este mundo está mais imundo

Jorge Coimbra

sábado, março 01, 2008

post nº 048

PENSAMENTOS TÃO SOLTOS

A felicidade tem uma ligação directa à alegria com que fazemos todas as coisas. Eu conheço muitas pessoas bem felizes com pouco. Mas conheço muitas mais infelizes que tanto têm.

Sou pai de vários filhos, todos bem variados uns dos outros. Aos do meu sangue tento ser bom pai, falhando muitas mais vezes do que aquelas que queria. Aos do meu afecto tento ser bom pai sem nunca me esquecer que eles já têm pai.

Precisava-mos de ser governados por um poeta com os pés assentes na terra e o espírito ao alto. Precisamos de alguém que nos diga ainda que as utopias poéticas, como a paz e a igualdade para todos, são ainda possível.

Precisamos de ser felizes com pouco, alegres como muitos, pois ainda somos muito pouco seres humanos.

Jorge Coimbra