quinta-feira, janeiro 17, 2008

post nº 005

POEMA AO PENSAMENTO

Estava eu, homem, sentado num banco
Aporreado ao pensamento
Em artes de Ofício Santo
E vai daí - num repente -
(Eu vou ser franco)
Uma mal-parida aberração
E com manhas de puro espanto
Irritado tão e tanto
Acorda-me daquele pranto
(Nem que fosse eu gato ou cão)

Arre!

Que se nem isso temos
(E nem podemos pensar que temos)
Que se nada somos ou menos
Então... (uso a má criação...)
Somos nada - não existimos
Não nascemos - nem crescemos
Não procriamos - nem amamos
Não sofremos - nem morremos
E muito menos sabemos o que somos

Que se penteiem com os nossos ossos
Que nos transfigurem em ténues esboços
Que nos façam lamber escarros
E nos dêem a fumar cinza de cigarros
Que nos chicoteiem os sexos
Despedacem o olhar e os reflexos
Que nos transformem em rodas dentadas
Movidas por nosso sangue em grossas levadas

Ao fim e ao cabo já não me interessa
Esta vida que me é um sofrimento
Nasceu-me dum pensamento
A voz, brotou-me dum lamento
Ah!... deixem-me pensar, depressa!

Pelo Jone Chipângua em 18/Jul/1972

Quem diria que voltaria a recordar isto que escrevi... há 36 anos. Já estou velho, cocuana maningue, mas ainda vibro quando me aporreio ao pensamento.

Os que davam porrada pelo pensamento de então, tinham um nome. Hoje já nem isso têm. Podem chamar-se liberdade ou democracia ou qualquer outra palavra enganadora... ...basta olhar o mundo.

Deixem-me continuar a pensar que sonho ou a sonhar que penso.

Jorge Coimbra

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