domingo, junho 15, 2008

post nº 065

VIDA DE POETA

Não sou nenhum poeta
O poeta é aquele que atira a palavra
Como uma bala, como uma seta
Que derrama o sangue de sua lavra

Não sou poeta
Ser poeta é ser nobre
Eu apenas sou pobre
Rico nos sonhos mas pobre nas ilusões
Com os bolsos cheios de acreditar
Vazios de frustrações
Que só tem quem lhe cobre
Sou alguém que nada tem

Não sou poeta
Porque o poeta diz que não é poeta
Que nunca está feliz
Que a vida é uma mentira, uma trêta
Que se calçasse sapatos de verniz
Ele estalava
Ao som de qualquer palavra
E caminharia roto, descalço
E guardaria tudo o que é falso
Num baú a que só ele tinha acesso
Onde escondia da vida o viciado ópio
Num cofre, um caixão, onde devasso
Morreria fazendo amor com si próprio

Não, não sou poeta
Sou a aberração duma estrofe que se anima
Dum poema, dum verso que não rima
Mas não sou poeta
Nem sou deste planeta
Não me reconheço
Nos papéis em que me escrevo
Nem sou eu que os escrevo
Sou um tempo de ampulheta
Que morro e acabo em cada grão de areia
Como letras que escorrem da caneta
Para papeis de peça de teatro sempre em estreia

Não sou poeta, não tenho veia
Não sei ser poeta
Não sei rimar nem fazer versos
Sou um conjunto de papéis dispersos


Jorge Coimbra

2 comentários:

th disse...

Não?...mas tens alma de poeta, e se um poeta é um sofredor, há nas tuas estrofes uma dor latente...Beijo, meu querido amigo, theo

Anónimo disse...

querido amigo ,
Dizes que não és poeta ......mas como diz o Theo , tens uma grande alma de poeta .....
Na realidade os poetas são por natureza tristes ....mas tu podes sentir uma grande tristeza , mas não é isso que demonstras .
Eu ja tive oportunidade de comprovar isso , és um amigão e muito divertido ....à tua maneira ,como sempre foste , claro.
Beijocas
Zita