segunda-feira, abril 28, 2008


post nº 058

PREFIRO

Eu prefiro estar sempre triste
Do que ser um alegre traste
Prefiro fazer pouco de mim
Que do meu riso outro gaste

Eu prefiro ser bom marido
Do que estar bem marado
Prefiro andar sempre ferido
Do que dar nome a feriado

Prefiro tornar-me obsoleto
Do que parecer absoluto
Prefiro desgastar-me a falar
Que ter que ouvir até me gastar

Prefiro sujeitar-me a descobrir
Do que destapar-me a encobrir
Prefiro ser uma grosa de obra
Do que ser o grosso do ébrio

Prefiro ser um circuito fechado
Do que o fio de terra reciclado
Prefiro ser mais obsessivo
Do que possuído obcecado

Prefiro ser chamado de Jorge
Do que ser chamado Porfírio
E prefiro que só de Jorge me chamem
Do que de Porfírio me aclamem

Prefiro ser o hoje e o agora
Do que ser o ontem ou o amanhã
Prefiro ter uma hora, em cada hora
Do que viver sempre em ante manhã

Prefiro ter melhor escrever
Do que ter melhor falar
Prefiro poder corrigir e safar
Do que já não conseguir apagar

Prefiro ter asas e voar
Desprender-me, elevar-me e pairar
Prefiro até ser penugem do ar
Do que não ter penas e penar

Prefiro ser chamado de Zé
Do que por Zé ser chamado
Prefiro a Divina providência
Do que política de previdência

Prefiro dormir mal acamado
Do que me acamar ao meu fado
Prefiro ser um humilde pecador
Do que algum super pregador

Prefiro ter a opção de preferir
Do que a obrigação de preterir
Prefiro acabar agora estes versos
Para que os ajuntem dispersos.

Eu prefiro…


... ter o mundo nas mãos do que ter as mãos no mundo

Jorge Coimbra

sábado, abril 26, 2008



post nº 057

BIG BANG

No tempo antes do tempo começar
Num pestanejar de olhos, Deus,
Faz-me brotar num firmamento
Transformando-me do pensamento
Que era só invenção de sonhos meus

Foi só nesse momento bendito
Um uivar de pouca dura
Arrepiante por ser disforme
Que me converte da massa informe
Numa explosão latente e pura

Foi somente um mero momento
Mas um estrondo de tal tamanho
Um relampejar de raios mil
Que no troar desse som subtil
Me início neste céu estranho

Foi num dia assim, castanho
Que Deus criou o universo
E quanto o mais faz disperso
Mais eu junto desse Deus venho

Mil galáxias! Quem me aponta
Buracos negros sem fim,
Entre um sol ou um arlequim,
O azul que em mim desponta?

Eis me aqui chegado e dado
Nascido, do nada feito,
Crescido de qualquer jeito
Mas dos confins amado

Jorge Coimbra

sexta-feira, abril 18, 2008


post nº 056

DESENCONTRO

Nos desencontros da vida

É que nós nos encontramos
Alegria surpreendida
Pelas rugas... rostos humanos

Quisera ser eu... foragido

Para roubar aquele encontro
Ao tempo... agora fugido
Sem ter que fugir do tempo

Esse tempo que nunca apaga

Mesmo ao passar à pressa
A saudade, essa terna mágoa
Que abraça quem regressa

Nesse tempo que te passou

Nunca perdeste ou ganhaste
Nunca sofreste ou gastaste
Algum do tempo que sobrou

Mas sobra-te agora o alento

Para dizer, lá bem de dentro,
Que hoje voas com o vento
Para revisitares o tempo

Daquele maravilhoso encontro

Jorge Coimbra


Para todos os meus amigos, que um dia vou rever, nem que se parta a clepsidra da vida.

sábado, abril 12, 2008


post nº 055


OBRIGADO

Hoje andei por toda a Beira... vi todas as casas onde morei... todas as escolas onde estudei... todas as praias onde nadei... todos as ruas por onde caminhei, nos tempos em que julgava que a vida não tinha fim... e agora mesmo, neste momento, acabei de perceber, finalmente e completamente, porque ainda choro de saudades...

Porque hoje:

... Em todos os bancos de jardim sentei-me com todos os meus amigos.
... Fui a todos os cinemas, vi todos os filmes, com todos os meus amigos.
... Bronzeei na praia, ao desafio, com todos os meus amigos.
... Estudei em todas as escolas... mesmo aquelas onde não estudei.
... Namorei com todas as moças... mesmo aquelas com quem não namorei.
... Viajei em todos os machimbombos... mesmo aqueles em que nunca entrei.
... Abracei todos os amigos... mesmo os que com quem nunca me cruzei.

... Depois chorei... e, quando parei de chorar, ainda mais uma vez chorei.

... Porque ao te ter deixado, Beira... nunca te deixei…
... Se de ti tenho saudades... são as saudades que tenho de todos os amigos que jamais perderei.

... Perdoa-me Beira... se ainda te amo... mas não consigo esquecer-me de ti.
... Queres seguir a tua vida... mas eu te amarrei para sempre no meu coração.
... Perdoa-me Beira... porque sou ciumento... sem ti, perdi o meu espiritual sustento
... Perdoa-me Beira... porque te vou ainda ver... nem que seja só mais uma vez... Para poder dizer, nem que seja pela última vez:

“Olá! Olá cajueiro que suportaste o meu peso ao subir-te. Olá coqueiro que me deixaste roubar o teu coco. Olá mar salgado dos pontões, do salitre, que me deixaste lavar nas tuas águas.”

“Obrigado Beira... que em mais nenhum lado me eduquei... como tu me educaste.”

“Obrigado Beira... com todos os teus conteúdos... com toda a tua gente... com todos os meus amigos... amo-te para sempre…mesmo que o sempre seja a palavra mais derradeira que me deixaste.”

Obrigado Beira

Jorge Coimbra